quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Centros Periféricos



Ano passado o Festal aconteceu na praça Sinimbu no centro da cidade de Maceió, a praça Sinimbu é palco constante na cidade de movimentações, é tradicionalmente nos dias de hoje associada à escola de artes ou às ocupações que por vezes ela abriga. O que saltou aos olhos no Festal foi que uma área por assim dizer insegura e deserta tornou-se viva novamente pela via do encontro.

A praça foi ocupada das mais variadas formas possíveis, desde o debate político, ao comércio e a apresentação artística. Os moradores do centro, que está sendo cada vez mais abandonado devido à criminosa especulação imobiliária, puderam ver tão próximo o coração da cidade bater. O centro já quase mortificado respirou mais uma vez e com isso levantou uma ideia. O centro já não é mais o centro, como devemos chamar um centro abandonado? Talvez periferia? Mas periferia não é o que não é centro? O Festal provocou uma reestruturação do passo comum da cidade!

Se olhávamos para o centro como o local de comércio, do deserto noturno, devido a transformações de grande parte dos imóveis residenciais em comerciais, o Festal fez suas feições sorrirem um pouco mais postergando seu último suspiro. O centro, há algum tempo, deixou de ser residência e tornou-se capital, escoando seus espaços para terrenos baldios e muros, quantos muros! Mas a Escola Técnica de Artes ainda fica no centro, o Teatro Deodoro ainda fica no centro, o SESC, a Catedral, o Museu de Arte sacra, o Instituto Histórico, a Casa da Palavra, a Academia Alagoana de Letras, o Memorial da República, a Pinacoteca Universitária, o Cenart, a Casa Jorge de Lima, o Museu Theo Brandão, o Museu de Arte Sacra, o Mercado do Artesanato, o Mercado da Produção, a Catedral Metropolitana, a praça dos Martírios, a praça Zumbi dos Palmares, a praça Deodoro, a Assembleia Legislativa de Alagoas, a Câmara dos Vereadores de Maceió, o Tribunal do Trabalho, o Tribunal Eleitoral e a praça Sinimbu!

Parece que estão escoando nossos olhos do centro e com isso se vão todos os aparatos construídos para que o centro de uma cidade seja o centro de uma cidade. Talvez descentralizar uma cidade seja preciso, mas a que preço? Descentralizar seria desmontar? Escoar o que se tem no centro? O suor vertido nos prédios do centro é importante para uma cidade, talvez desejemos não desmontar o centro, mas tornar o território da cidade interligado em uma rede sem centro, talvez apenas criar formas de ligação entre o centro e as tão faladas invisíveis periferias.

Mas invisíveis para quem? Para as visíveis periferias, que sobre os escombros de suas vizinhas tentam brilhar, risíveis periferias. Será que será construído o novo teatro da capital no novo centro? Onde será? Na Ponta verde? No Farol? Ou será que no Aldebaran? Ou será que transformaremos o Vale do Reginaldo no novo bairro da moda? Mas este último é chamado de periferia. Não entendam mal, Farol, Ponta Verde, Aldebaran são todos periféricos, afinal não são o centro ou melhor não se localizam geograficamente onde foi chamado de centro. Mas no caso de outros bairros como o Vergel, o Benedito Bentes, o Bom Parto, a Garça Torta, o Poço, o Vale do Reginaldo, o Feitosa, o Jacintinho e tantos outros que são chamados de periferia, ou quebradas, as alquebradas quebradas. Mas as vezes transformam-se as invisíveis periferias nas visíveis, geralmente fazem isto expulsando de suas casas seus chorosos habitantes, como fizera o atual prefeito com a Vila dos Pescadores no Jaraguá, trocando-os por risíveis novos proprietários. O problema é esse quem, quem é invisível? Para quem? O fato é que não é invisível! É muito visível. E não se torna visível, muros não são feitos para dar visibilidade.

O Festal gostou de ver o “Centro 'periférico' de Maceió” pulsar, gostando da ideia, gostaríamos de ver outros centros pulsarem. Centros, porque são o centro da vida de tanta gente, afinal o local onde estamos é de onde nos alimentamos e respiramos. Não temos a pretensão de dar visibilidade a ninguém, pois não acreditamos que sejam invisíveis, queremos conversar, saber mais sobre estes centros, como pulsam, e talvez, se estes também estiverem ameaçados como o “Centro de Maceió”, emprestarmos um pouco de nossas energias para que deem uma respirada. É por isso que o Festal vai se descentralizar por Maceió, mas não se enganem, não é nossa pretensão desmontar o que já foi criado, a ideia é alastrar a festa.

Este ano o Festal acontecerá nas comunidades do Sururu do Capote (dentro do Vergel do Lago), do Bom Parto, da Cidade Sorriso (dentro do Benedito Bentes), da Garça Torta e, mais uma vez, do Centro, e é com muito carinho e curiosidade que nós, nossos parceiros, patrocinadores e apoiadores desejamos esta conexão alegre.

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