sábado, 11 de agosto de 2018

Ruínas e Possibilidades: Teatros de Maceió

Prédio na Rua Sá e Albuquerque, Jaraguá
Quando se caminha pela cidade de Maceió, principalmente nos bairros mais antigos, podem-se notar reminiscentes marcas da história da capital. Para olhos que se demoram mais em admirar as ruas da cidade ou que tentam perceber o que há por trás das ruínas desprezadas pelo poder público e por nós mesmos, em nossa apatia, belíssimos prédios despontam na paisagem revelando possíveis locais de comunhão, confraternização e convívio do passado da cidade. É certo que em locais os quais são visitados e onde o povo costuma ir por sua identidade, há vida e há a segurança de se estar em um local próprio, seu; por outro lado, quando se remove destes locais funções de interesse comunitário ou de convívio, a vida se corrói e apenas uma reminiscência do que já foi próprio para alguém resta no olho de um distante observador. A ruína causa certa angustia, porém pode dar às pessoas um vislumbre do que pode tornar a ser ou um anúncio de mudança para o futuro.

O teatro, que mesmo em sua etimologia pode se referir ao edifício de onde se assiste à cena, mudou com suas renovações, se tornou livre da caixa, livre do palco, livre do prédio. Porém isto não significa que o prédio, o teatro, tenha perdido sua função ou sua razão de ser: um local de convívio, confraternização e comunhão que transforma o passo corriqueiro do dia a dia, podendo torná-lo em uma maravilhosa e provocadora dança ou em um ato impetuoso e revolucionário.

Teatro Deodoro, em 1915

Em Maceió, temos um número pequeno de teatros e muitas vezes não necessariamente estão abertos a propiciar o acesso aos artistas da cidade onde foram erigidos. O mais antigo dos teatros hoje na cidade é o Teatro Deodoro, que teve sua construção finalizada sobre os vestígios do Teatro Seis de Setembro, este que jamais tivera sua construção concluída. Após trágicas mortes de construtores e lendas agourentas o teatro foi inaugurado no dia 15 de novembro de 1910 e desde então foi literalmente o palco de grande parte da cena maceioense e alagoana.

Theatro Polytheama, 1905
Entretanto, apesar de o Teatro Deodoro ser o teatro mais antigo ainda de pé na cidade, ele não foi o primeiro. Ainda houve o Theatro Polytheama, na rua do Imperador, na praça Sinimbu, inaugurado em 17 de Junho de 1905. O Polytheama funcionou a todo vapor e, por isso mesmo, fechou no ano seguinte devido excesso de despesas. Logo o terreno do Polytheama fora comprado e no ano seguinte reabriu também com sessões de cinematógrafo. O Polytheama, como o nome grego já diz: Poly (muitos) Theama (Espetáculos), consistia na diversidade de gênero de apresentações: teatro de revista e variedades.

Prédio do antigo Teatro Maceioense - Cinema Delícia
Antes ainda houve o Teatro Maceioense, localizado na rua do Sol, no centro da cidade, fundado junto com a Sociedade Dramática Particular Maceioense em 1846, o edifício chegou a receber, além de diversos trabalhos das Sociedades Dramáticas Particulares que haviam na época, grandes obras do Ballet português e ainda a visita do Imperador D. Pedro II. O Teatro Maceioense também sediou a instalação da Sociedade Libertadora, instituição que assumiu a luta contra a escravidão em Alagoas, na ocasião duas pessoas foram alforriadas no teatro. Após um longo período em que o teatro ficou fechado, ele reabriu exibindo sessões de cinematógrafo, sendo divulgado como Teatro Maceioense – Cinema Delícia. Com a inauguração do Teatro Deodoro e do Cinema Helvética, o Teatro Maceioense não suportou a concorrência e fechou suas portas.

Os teatros Polytheama e Maceioense infelizmente não existem mais, seus rastros já se apagaram no progresso do tempo, porém ainda existem prédios diversos em Maceió que podem ser revigorados, não só teatros, mas potentes espaços que podem se tornar em palcos de transformação. O Teatro de Bolso Lima Filho é um exemplo disso, na rua Pedro Monteiro, dentro do CENARTE, infelizmente hoje fechado, o Teatro Lima Filho foi palco importante para o teatro alagoano, cenário do Festival Estudantil de Maceió e outros espetáculos. Talvez seja a hora de nós, responsáveis por nossa cidade, olharmos para espaços com tais histórias e com tais possibilidades e exigirmos o seu retorno.

Prédio do CENARTE, onde se encontra o Teatro de Bolso Lima Filho
Existem hoje outras casas de espetáculos que são usadas no repertório artístico da cidade, a exemplo do Teatro SESC Jofre Soares, o Teatro do Espaço Cultural Arte Pajuçara, o Teatro de Arena Sérgio Cardoso, o Espaço Cultural Linda Mascharenhas, o Teatro Gustavo Guilherme Leite, porém a cidade cresceu e necessita da manutenção e da abertura maior de alguns desses espaços onde se faz ainda teatro em Maceió.

Fontes:

https://www.historiadealagoas.com.br/teatro-maceioense-e-o-cine-delicia-da-rua-do-sol.html

https://www.historiadealagoas.com.br/theatro-polytheama-a-primeira-grande-casa-de-espetaculos-de-maceio.html

https://www.historiadealagoas.com.br/a-maldicao-do-teatro-deodoro.html

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